quarta-feira, 30 de maio de 2012


Visão Analítica da Informática na Educação no Brasil:
A Questão da Formação do Professor

José Armando Valente
A História da Informática na Educação no Brasil data de mais de 20 anos. Nasceu no início dos anos 70 a partir de algumas experiências na UFRJ, UFRGS e UNICAMP. Nos anos 80 se estabeleceu através de diversas atividades que permitiram que essa área hoje tenha uma identidade própria, raízes sólidas e relativa maturidade. Apesar dos fortes apelos da mídia e das qualidades inerentes ao computador, a sua disseminação nas escolas está hoje muito aquém do que se anunciava e se desejava. A Informática na Educação ainda não impregnou as idéias dos educadores e, por isto, não está consolidada no nosso sistema educacional.
Diante desse quadro, a pergunta que se faz é: "por que essa proliferação não aconteceu"? Talvez a resposta mais óbvia seja: "faltou vontade política dos dirigentes", projetos mais consistentes e corajosos e, conseqüentemente, verbas. Mas a resposta não é tão simples.
Focar a discussão somente na falta de recursos financeiros parece muito superficial. Nesse momento, quando se inicia o ano de 1997 e o Governo Federal cria condições para a disseminação da Informática na Educação, é extremamente oportuna a reflexão sobre essa longa caminhada e a compreensão de como essa disseminação pode ser efetivamente mantida dentro de propostas competentes e viabilizadas pela comunidade científica e educacional.
A posição que defendemos é que, além da falta de verbas existiram outros fatores responsáveis pela escassa penetração da Informática na Educação. A preparação inadequada de professores, em vista dos objetivos de mudança pedagógica propostos pelo "Programa Brasileiro de Informática em Educação" (Andrade, 1993; Andrade & Lima, 1993) é um destes fatores. Esse programa é bastante peculiar e diferente do que foi proposto em outros países. No nosso programa, o papel do computador é o de provocar mudanças pedagógicas profundas ao invés de "automatizar o ensino" ou promover a alfabetização em informática como nos Estados Unidos, ou desenvolver a capacidade lógica e preparar o aluno para trabalhar na empresa, como propõe o programa de informática na educação da França. Essa peculiaridade do projeto brasileiro aliado aos avanços tecnológicos e a ampliação da gama de possibilidades pedagógicas que os novos computadores e os diferentes software disponíveis oferecem, demandam uma nova abordagem para os cursos de formação de professores e novas políticas para os projetos na área.
O artigo descreve, inicialmente, os principais marcos do desenvolvimento da Informática na Educação nos Estados Unidos da América e na França. O Programa Brasileiro de Informática na Educação, de certa forma, foi influenciado pelo que foi realizado em Informática na Educação nesses países e, portanto, a discussão dessas realizações cria um contexto bastante importante para entender o Programa Brasileiro. Em seguida o artigo descreve as bases para a Informática na Educação no Brasil de forma genérica uma vez que o artigo da Maria Cândida de Moraes (ver páginas xxxxx) detalha as principais ações do Programa Brasileiro de Informática na Educação. Finalmente, aprofunda nas questões da formação do professor e dos avanços tecnológicos em consonância com as exigências e peculiaridades do Programa Brasileiro.
A INFLUÊNCIA DE OUTROS PAÍSES NO DESENVOLVIMENTO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A Informática na Educação no Brasil nasce a partir do interesse de educadores de algumas universidades brasileiras motivados pelo que já vinha acontecendo em outros países como nos Estados Unidos da América e na França. Embora o contexto mundial de uso do computador na educação sempre foi uma referência para as decisões que foram tomadas aqui no Brasil, a nossa caminhada é muito particular e difere daquilo que se faz em outros países. Apesar das nossas inúmeras diferenças, os avanços pedagógicos conseguidos através da informática são quase os mesmos que em outros países. Nesse sentido estamos no mesmo barco.
Mesmo nos países como Estados Unidos e França, locais onde houve uma grande proliferação de computadores nas escolas e um grande avanço tecnológico, as mudanças são quase inexistentes do ponto de vista pedagógico. As mudanças pedagógicas são sempre apresentadas ao nível do desejo, daquilo que se espera como fruto da informática na educação. Não se encontram práticas realmente transformadoras e suficientemente enraizadas para que se possa dizer que houve transformação efetiva do processo educacional como por exemplo, uma transformação que enfatiza a criação de ambientes de aprendizagem, nos quais o aluno constrói o seu conhecimento, ao invés de o professor transmitir informação ao aluno.

A Utilização dos Recursos Informatizados a Partir de uma Relação Inventiva com a Máquina: a Robótica Educativa

Rogers Maisonnette

As justificativas para a introdução dos computadores na educação são diversificadas e, na medida em que aumenta a intimidade dos alunos e professores com os novos recursos, estes podem e devem ser expandidos . A utilização da robótica na educação vem expandir o ambiente Logo de aprendizagem, disponibilizando mais ferramentas, aumentando a gama de atividades que podem ser desenvolvidas e promovendo a integração de diversas disciplinas, na medida em que os alunos podem vivenciar, na prática, o método científico, simulando mecanismos do cotidiano, através da construção de maquetes controladas pelo computador.
A robótica educativa, apoiada na experimentação e na errância, propõe "uma nova relação professor/aluno, na qual ambos caminham juntos, a cada momento, buscando, errando, aprendendo...." (Fróes, 1998)
Mas o que é robótica ? e do que trata a robótica educativa ? Podemos definir como robótica o controle de mecanismos eletro-eletrônicos através de um computador, transformando-o em uma máquina capaz de interagir com o meio ambiente e executar ações decididas por um programa criado pelo programador a partir destas interações. Podemos exemplificar o uso da robótica em diversas área de conhecimento. Na engenharia temos os robôs que mergulham a grandes profundidades para auxiliar em reparos nas plataformas de petróleo; na medicina, os robôs já auxiliam as cirurgias de alto risco. Outras aplicações podem ser menos percebidas, você sabia que a impressora do seu computador é um robô ?
A robótica educativa é uma aplicação desta tecnologia na área pedagógica, sendo mais um instrumento que garante aos participantes a vivência de experiências semelhantes às que realizarão na vida real e oferece oportunidades para propor e solucionar problemas difíceis mais do que observar formas de solução.
Para Piaget, as funções essenciais da inteligência consistem em compreender e inventar, em outras palavras, construir estruturas estruturando o real. A experiência física definida por Piaget como essencial na formação da inteligência consiste em agir sobre os objetos e descobrir as propriedades por abstração, partindo dos próprios objetos.
Em nossa proposta de robótica educativa, invenção e compreensão são palavras-chave O aluno é instigado, a todo momento, a observar, abstrair e inventar, criando seus modelos a partir de materiais diversos do seu cotidiano tais como peças de brinquedos e eletrodomésticos danificados, peças de lego, circuitos eletrônicos, etc.
O aluno passa, então, a construir seu conhecimento através de suas próprias observações, e como nos ensina Papert, aquilo que é aprendido pelo esforço próprio da criança tem muito mais significado para ela e se adapta melhor às suas estruturas mentais, uma vez que o processo de aprendizagem requer, para as informações novas, uma estrutura anterior que permita que estas possam ser melhor assimiladas. Nesta filosofia não encontra respaldo a aprendizagem passiva, caracterizada apenas pela absorção de informações. O mais importante é a investigação, o processo exploratório ao qual é induzido o aluno, levando este a desenvolver um verdadeiro processo de descoberta.

Mudando paradigmas: Conhecendo a informática educacional

Vicente Willians

Meu primeiro contato com a Informática Educacional foi em 1993. Nesta época, ministrava aulas de informática em um Curso Profissionalizante de Ensino Médio (2º Grau). Estava visitando uma Feira de Informática realizada no antigo MEC e, neste evento, além da exposição de stands, seriam realizadas algumas palestras. Vendo o programa daquele dia, achei que seria bastante interessante assistir a uma palestra sobre Inteligência Artificial. Antes desta palestra haveria outra sobre Informática Educacional?!. Eu não tinha idéia do que se tratava, mas, como tinha que esperar pela palestra sobre Inteligência Artificial, fiquei no auditório. Para tentar encurtar essa história, posso dizer que aquela palestra sobre Informática Educacional mudou de forma radical a minha postura quanto ao que pensava ser educação. Os relatos e questionamentos levantados pelo palestrante me fizeram repensar sobre tudo que considerava ser o "papel de um professor". A partir daquele momento, comecei a entender que nem sempre ou até, por que não dizer?, quase nunca é o aluno o único responsável pela sua dificuldade de aprendizado. Entendi que para se trabalhar com educação é necessário um "algo mais", que não dá para explicar, algo que faz com que você aceite participar de um processo de construção. Trocando em miúdos, depois desta palestra procurei estudar e conhecer mais sobre Informática Educacional.
Através dos estudos feitos nesta área, comecei a modificar minha postura frente aos problemas de aprendizagem dos meus alunos, procurando tratar cada um como sendo único, respeitando sua individualidade ajudando-os perceber a importância de estarem aprendendo algo para ser utilizado em sua vida. É importante ressaltar as dificuldades encontradas neste período, pois eu era o tipo de professor "turrão", que acreditava estar "dando" uma aula maravilhosa e que todos os aluno deveriam ficar muito satisfeitos e atentos à mesma. Esta minha nova postura não me trouxe problemas com os alunos; pelo contrário, a minha relação passou a ser muito mais prazerosa. Uma das observações mais importante que fiz neste período foi a de que a relação professor / aluno melhorou muito gerando o companheirismo e favorecendo a aprendizagem.
Os problemas que não tive com os alunos foram os encontrados com meus colegas de profissão e com a coordenação da escola, pois todos achavam que minha nova postura contrastava com a da maioria dos outros professores. Só para exemplificar esta fase, houve um dia em que, como sempre acontecia, estávamos em um Conselho de Classe, e os professores começaram a falar das dificuldades que a maioria dos alunos tinha em assimilar os conteúdos "tão bem explicados". Como já era de costume, estávamos todos indo para o lugar-comum de falar que os alunos não conseguiam aprender, usando, inclusive, expressões bastantes grotescas. Diante deste panorama, tomei a atitude de perguntar à Diretora da escola, que participava do conselho, se aquela reunião se resumiria ao levantamento dos problemas de alunos. Ela pediu para que eu fosse mais claro em minha indagação. Relatei, então, que já estava na escola há 4 anos e que em todos os conselhos eram levantadas as mesmas dificuldades, algo que devo reconhecer que também era feito por mim um tempo atrás. Falei que o importante seria que, além de estarmos levantando os problemas, também estivéssemos fornecendo sugestões sobre como solucioná-los. Para minha "grande" surpresa, alguns professores pensavam da mesma forma que eu. Aproveitando o fato de já ter conseguido fazer com que os professores entendessem que, pelo menos em parte, eram responsáveis pelas dificuldades dos alunos, sugeri que fosse criada o que chamamos na época de "aula de reforço", e fazer nessas aulas, algo "diferente", utilizando outros recursos que não fossem somente o quadro-negro e o giz.

Educação e Informática: A Relação Homem/Máquina e a Questão da Cognição

                                             Jorge R. M. Fróes 
A tecnologia sempre afetou o homem: das primeiras ferramentas, por vezes consideradas como extensões do corpo, à máquina a vapor, que mudou hábitos e instituições, ao computador que trouxe novas e profundas mudanças sociais e culturais, a tecnologia nos ajuda, nos completa, nos amplia.… Facilitando nossas ações, nos transportando, ou mesmo nos substituindo em determinadas tarefas, os recursos tecnológicos ora nos fascinam, ora nos assustam…
E esta forma de interferência da tecnologia em nosso cotidiano caracteriza uma contribuição que ocorre naturalmente, mesmo que não nos estejamos dando conta disso. Trata-se de um processo interessante, que está mudando, entre outras coisas, aquilo que tradicionalmente chamamos de "ensino", aproximando-o cada vez mais do próprio processo natural de difusão cultural. As assim chamadas "novas tecnologias" estão desterritorializando a instituição escolar: hoje, aprende-se não apenas no prédio físico da escola, mas em casa, no escritório de trabalho, em qualquer lugar onde se possa ter acesso às informações ( e o próprio escritório de trabalho pode estar em nossa residência).
Assim, da mesma forma como a criatividade inventiva do homem gera novas ferramentas tecnológicas, e modifica constantemente os instrumentos que inventa, existe um efeito inverso: a tecnologia modifica a expressão criativa do homem, modificando sua forma de adquirir conhecimento, interferindo assim em sua cognição.
 Desde a invenção do primeiro computador eletrônico programável, o ENIAC, (Electronical Numerical Integrator and Computer), operacionalizado inicialmente em 1946, resultante de um esforço de guerra, necessário à participação militar americana na Segunda Guerra Mundial, registra-se, na história da computação, a ênfase na resolução de problemas, apoiada em fundamentos lógicos. Datam igualmente da década de 40 os primórdios do lançamento da primeira etapa das assim chamadas "ciências da cognição", envolvendo diversas disciplinas tais como a lingüistica, a epistemologia, a psicologia cognitiva, as neurociências e, claro, a Inteligência artificial. Essas disciplinas destacam, de uma forma geral, a lógica matemática como base do entendimento do funcionamento do cérebro, fato verificado em diversas propostas, onde os neurônios eram representados como componentes dotados de princípios lógicos, reproduzindo as configurações das "portas lógicas", dos circuitos lógicos, "and", "or", e suas combinações formais. A lógica passou então a ser utilizada como modelo formal do funcionamento do sistema nervoso e do próprio raciocínio humano, dando início à construção de um novo paradigma sobre o conhecimento, nas suas relações com a tecnologia: o paradigma cognitivista (Cf. Varela, 1996).

Ensinando na Era da Informação

Laura Coutinho

A informação sempre foi a ingrediente principal na educação. O uso de redes de alta velocidade, com fibras óticas ou conexões via satélite para acessar rapidamente as grandes bibliotecas eletrônicas expansíveis e bases de dados fornece a base para uma potencial revolução no aprendizado. A combinação destes recursos com um computador pessoal dá aos estudantes acesso a grandes quantidades de informações, e moverá o locus do poder do professor para o aprendiz. As comunicações via computador, por exemplo, a conexão de computadores pessoais a servidores "mainframe" via redes de dados, pode criar ambientes educacionais altamente interativos.

                                      Uma Revolução no Aprendizado
O computador pessoal colocou um poder inimaginável nas mãos dos aprendizes individuais. Ele pode permitir que os aprendizes trabalhem de suas próprias maneiras, em velocidades variadas. Por muito empo, a educação tem feito promessas infundadas para atender as necessidades únicas dos indivíduos e ensiná-los de que maneira aprender. O adventos da era da informação juntamente com o advento dos computadores pessoais tornam esta meta mais significativa .
Tipicamente, as salas de aula tradicionais têm fileiras de estudantes, sentados lado a lado, encarando bem em frente um professor, que é o fornecedor do conhecimento. Quaisquer diferenças entre os estudantes são explicadas como medidas da inteligência individual. Esta estrutura espelha os sistemas de linhas de montagem da sociedade industrial e reflete a mentalidade da revolução industrial que certa vez guiou os caminhos de nossa sociedade. A era da informação de hoje necessita de um novo modelo para a educação; por isso, existe o potencial para uma revolução no aprendizado.
O que é informática?
Chama-se genericamente de informática ao conjunto das ciências da informação, estando incluídas neste grupo: a ciência da computação, a teoria da informação, o processo de cálculo, a análise numérica e os métodos teóricos da representação dos conhecimentos e de modelagem dos problemas.

O termo informática, sendo dicionarizado com o mesmo significado amplo nos dois lados do Atlântico, assume em Portugal o sentido sinônimo de ciência da computação enquanto que no Brasil é habitualmente usado para referir especificamente o processo de tratamento da informação por meio de máquinas eletrônicas definidas como computadores.

O estudo da informação começou na matemática quando nomes como Alan Turing, Kurt Gödel e Alonzo Church, começaram a estudar que tipos de problemas poderiam ser resolvidos, ou computados, por elementos humanos que seguissem uma série de instruções simples de forma, independente do tempo requerido para isso. A motivação por trás destas pesquisas era o avanço durante a revolução industrial e da promessa que máquinas poderiam futuramente conseguir resolver os mesmos problemas de forma mais rápida e mais eficaz. Do mesmo jeito que as indústrias manuseiam matéria-prima para transformá-la em um produto final, os algoritmos foram desenhados para que um dia uma máquina pudesse tratar informações. Assim nasceu a informática.

Aplicação dos recursos de informática na educação 
Muitas escolas do Brasil já possuem um laboratório de informática com acesso à Internet, softwares educacionais e programas básicos (editores de texto, programas de edição de imagens e apresentações, planilhas de cálculo, etc). Porém, basta ter os recursos? Como utilizá-los de maneira a garantir o desenvolvimento do aluno? Estas são apenas algumas questões levantadas por educadores brasileiros.

Em primeiro lugar, temos que partir do princípio de que o computador é apenas uma ferramenta. Sozinho, não é capaz de trazer avanços educacionais. Uma escola que resolve utilizá-lo como recurso didático necessita de bons professores, preparados e treinados, para utilizar os recursos oferecidos por este sistema tecnológico de forma significativa.

Colocar qualquer software para os alunos usarem não gera aprendizado. É importante que a escola tenha um projeto pedagógico que envolva a utilização do computador e seus recursos. O aluno não pode ser um mero digitador, mas sim, ser estimulado a produzir conhecimentos com o uso do computador. Neste sentido, o professor deve agir como um orientador do projeto que está sendo desenvolvido.

O uso da Internet também é um caso importante. De nada adianta pedir para um aluno fazer uma pesquisa na Internet sem as devidas orientações. Cabe ao professor instruir os alunos para que estes não façam simples cópias de textos encontrados em sites. Apenas copiando, os alunos não vão aprender. As orientações devem ser no sentido de como elaborar uma pesquisa, como encontrar sites confiáveis, como gerar conhecimentos com o material pesquisado, etc.

Outro ponto importante é o incentivo à criação. O aluno não deve ser colocado de forma passiva diante do computador. As ferramentas tecnológicas devem servir de base para a criação. Uma planilha de cálculos, por exemplo, pode ser usada para um trabalho de matemática com dados estatísticos, criando fórmulas e gerando gráficos. Um editor de textos pode ser usado para a criação de um jornal com notícias e informações sobre o conteúdo de uma disciplina. Um programa de apresentação (PowerPoint) apresenta inúmeras possibilidades na elaboração de aulas com imagens, sons e outros elementos multimídia.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Amigo pica pau

aranha

Rio + 20

Uma conferência no Brasil, em junho de 2012 pode destravar as negociações internacionais sobre ambiente. Ou produzir novo fiasco global
Por Antonio Martins
A Copa-2014, em doze capitais, e as Olimpíadas-2016, no Rio de Janeiro, atraem mais holofotes. Mas apenas um ano nos separa de um evento internacional que, realizado em solo brasileiro, terá desdobramentos internacionais muito mais profundos – para bem ou para mal. Entre 4 e 6 de junho de 2012, a Cidade Maravilhosa acolherá a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20.
Convocada duas décadas após a ECO-92 – um divisor de águas nas relações internacionais envolvendo ambiente e desenvolvimento –, a Rio+20 vai se materializar em duas mega-atividades. O elegante Porto Maravilha, resultado da revitalização dos antigos armazéns do cais carioca, hospedará a conferência oficial. Receberá os donos do poder e as luzes da mídia. Serão protagonistas chefes de Estado, ministros, embaixadores, personalidades. Todos os países-membros da ONU enviarão delegações. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral do Itamaraty, imagina que poderá vir a ser “a maior conferência da história”.
A poucos quilômetros dali, estará a multidão. Os jardins que Burle Marx desenhou no Aterro do Flamengo abrigarão um evento paralelo, organizado por coalizões da sociedade civil e denominado Cúpula dos Povos. Terá a cara dos Fóruns Sociais Mundiais (FSMs). Reunirá dezenas de milhares de pessoas: chegarão de todas as partes do mundo, compondo uma babel fervilhante de idiomas, etnias, desejos. Estão envolvidas em múltiplos projetos de transformação social e nutrem distintos graus de oposição às políticas de quase todos os governos.
As relações entre os dois universos são difíceis. Em mais de uma ocasião, governos que sediavam reuniões da ONU, da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou do FMI receberam a sociedade civil com spray de pimenta e cassetetes. Em outras, deram-lhe assento cosmético na tomada de decisões. Em contrapartida, governantes queixam-se de que encontros como os FSMs limitam-se a formular críticas genéricas – ignorando correlações de forças e se recusando a apresentar alternativas concretas às políticas que condenam. Os dois mundos acalentam, além disso, expectativas muito distintas em relação à Rio+20, como se verá.
E, no entanto, um cenário muito particular está se desenhando para a conferência. Ela oferece oportunidade rara de enfrentar as grandes crises planetárias que se tornaram evidentes há alguns anos: a ambiental; a alimentar e de desigualdade; a econômica; e a da governança da globalização. As expectativas criadas poderão resultar num decisivo passo adiante – ou em grande frustração. Mas a hipótese favorável só será alcançada se as diferenças entre o mundo do poder e o das sociedades civis gerarem uma espécie de tensão produtiva.
* * *
Em teoria, o mandato da Rio+20 oficial (UNCSD 2012, para a ONU) é muito amplo. A conferência foi proposta à Assembleia Geral das Nações Unidas em 2007, por Lula, em mais um lance de rara sensibilidade política. Meses antes, o Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC, outro órgão da ONU) lançara um relatório em que pedia medidas urgentes para reduzir as emissões de CO2. Convocada oficialmente dois anos mais tarde, a conferência deve avaliar os resultados dos vários acordos internacionais firmados na área de desenvolvimento sustentável (o que inclui as conferências sobre Mulheres, Cidades e outras). A partir desta análise, pode definir compromissos comuns em duas vastas áreas: Economia Verde e Governança Global do Desenvolvimento Sustentável.
Esta definição geral oculta, porém, limites importantes. Tarimbada e segura, Cristina Montenegro representa no Brasil o Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA) desde 2004, quando esta agência instalou-se no país. Participa com frequência de diálogos com os demais atores envolvidos na preparação da Rio+10: governo, empresários, sociedade civil. Exerce influência: o PNUMA compõe a chamada troika, responsável, na ONU, pela preparação da conferência. Os outros dois integrantes são a agência de desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) e uma secretaria específica, comandada pelo diplomata chinês Sha Zukang. No entanto, não esconde a cautela, quando se trata de debater expectativas sobre os resultados da conferência marcada para junho de 2012.
“É preciso ter em mente que o mundo é muito distinto do que vivíamos na ECO-92. Considero temerário esperar os mesmos resultados”, alerta Cristina. Ela aponta duas grandes mudanças: uma na conjuntura internacional, outra no interior do próprio sistema ONU.
A segunda é a menos conhecida do público. Cristina explica: “a ECO-92 foi uma ocasião especial. Quando se realizou, já estavam amadurecidas nas Nações Unidas, após anos de negociações, três grandes convenções internacionais sobre Ambiente e Desenvolvimento. As que tratam de Mudanças Climáticas (UNFCCC) e Biodiversidade (UNCBD) foram firmadas ali mesmo, no Rio; sobre Desertificação (UNCCD), três anos mais tarde. Mas hoje, não há, na ONU, nenhum debate capaz de gerar, em curto prazo, compromissos desta envergadura”.
Além disso, o próprio sucesso inicial destes processos deu origem a estruturas de poder que não podem ser atropeladas – o que pode produzir rigidez. Clima, Biodiversidade de Desertificação já não estarão na pauta da ECO-92. Os acordos internacionais sobre cada um destes temas temas passaram, agora, ao âmbito das respectivas Conferências entre as Partes (COPs), que se realizam em geral a cada ano. A pauta da Rio+20 não prevê, por exemplo, tratar do impasse que marca as negociações sobre mudança climática e o pós-protocolo de Kyoto desde dezembro de 2009, quanto terminou melancolicamente a COP 15 sobre esse tema.
Cristina Montenegro avalia que, no cenário mundial extra-ONU, as nuvens também estão carregadas. “Em 1992, o mundo havia acabado de superar a Guerra Fria. Havia muita disposição para criar consensos. Hoje, vivemos uma série de crises. Obrigados a priorizar seus próprios problemas, os Estados tendem a deixar em segundo plano as medidas de articulação e cooperação internacional”
A Rio+20 seria, então, uma encontro faustoso em torno do nada? A representante do PNUMA rejeita esta visão pessimista. Para, os tempos são difíceis mas há tarefas estratégicas a realizar. A principal delas seria fortalecer, na estrutura das Nações Unidas, das agendas relacionadas a Ambiente e Desenvolvimento – que hoje não ocupam o primeiro plano.
Desde 1972, quando as Nações Unidas realizaram em Estocolmo sua Conferência sobre Ambiente Humano – uma precursora da ECO-92 – multiplicaram-se os órgãos que lidam de alguma maneira com os dois temas. Além de PNUD e PNUMA, partes do sistema ONU como a FAO (para Agricultura), Unesco (Cultura), Unido (Desenvolvimento Industrial) e OMM (Meteorologia) criaram braços ligados a florestas, biotecnologia e hidrologia, por exemplo.
Como resultado, diz Cristina “há uma dispersão de iniciativas, recursos, visibilidade. O conjunto
das organizações que tratam de Ambiente tem muito menos força que a Organização Mundial do Comércio”. Ou seja, reproduz-se a hierarquia básica do sistema, que submete as relações sociais (ou as busca de uma nova relação entre ser humano e natureza) à lógica dos mercados.
Sobre mudança nas estruturas da ONU relacionadas a Desenvolvimento e Ambiente, há, sim, estudos avançados, relata Cristina. Ela espera que gerem uma decisão no Rio. “Há quatro ou cinco fórmulas na mesa. Pode ser uma Organização Mundial do Meio-Ambiente, uma agência que reúna PNUMA e PNUD, um PNUMA muito vitaminado e outras. Não me inclino por nenhuma, a priori. Qualquer que seja o modelo, o importante, do ponto de vista político, é ter uma instituição forte, com peso e mandato renovado”.
* * *
Diretora de uma das maiores OnG brasileiras – a Fase Solidariedade e Educação – co-coordenadora da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), a carioca Fátima Mello está consciente das dificuldades para arrancar, dos governos presentes à Rio+10, compromissos sólidos com a preservação do ambiente e combate às desigualdades. “Estamos tocando em capital e poder. A transição para outro tipo de economia atinge interesses muito poderosos. A criação de um sistema de democrático de governança mundial não interessa aos membros do Conselho de Segurança da ONU. Mesmo Estados como o Brasil temem aventurar-se em favor de uma nova estrutura e arriscar os espaços que conquistaram no G-20, por exemplo”.
Por isso, e ainda que realce a importância das decisões da ONU, Fátima está concentrada em dar sentido ao fórum da sociedade civil. “A mobilização tende a ser enorme. Minha preocupação é com os resultados. Temos de ir além da mera denúncia, e começar a debater os caminhos para superar as relações sociais hoje hegemônicas”. Não se trata de um novo plano para tomada do Palácio de Inverno. “As alternativas ao capitalismo existem e estão sendo praticadas. São minoritárias, mas expandem-se por toda parte. Manifestam-se na economia solidária, na luta pela circulação não-mercantil da cultura e conhecimento, nas redes de software livre, na agroecologia. Cabe-nos estimulá-las, dar-lhes visibilidade, permitir que se multipliquem”.
Fátima vê a Cúpula dos Povos como um momento decisivo neste caminho. Quer construir, para o evento, um formato que acrescente algo ao dos Fóruns Sociais. “A multiplicidade estará garantida. Os movimentos sociais ou OnGs poderão propor temas, organizar atividades, estabelecer alianças, criar redes. Mas é possível, além disso, caminhar para a construção de convergências. Para torná-las possíveis, vamos começar a mobilizar e debater desde já”.
Em 2 de julho, uma reunião internacional da sociedade civil vai dar, no Rio de Janeiro, a largada para o processo. A convocação é aberta. Os participantes deverão formar grupos de trabalho que funcionarão ao longo de meses – inclusive virtualmente. Fátima espera que os trabalhos permitam sedimentar alguns consensos. Se isso foi possível, é em torno destes acordos que se desenvolverão as centrais principais da Cúpula dos Povos, em junho de 2012. “Precisamos estar unidos para pressionar a conferência oficial em relação a alguns pontos. Nem tudo poderá ser conquistado. Mas os acordos servirão de referência para nossas lutas futuras. O que já não basta é nos limitarmos à resistência”, reconhece a diretora da Fase.
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A fala de Fátima revela quão importante é, pra os movimentos da sociedade civil, estabelecer pontos de diálogo e controvérsia com o poder. Na última década, sob inspiração do FSM, deu-se uma autêntica revolução, neste universo. Perderam muito prestígio concepções herdadas das antigas tradições socialista e comunista, segundo as quais a realização dos grandes projetos acalentados pelos movimentos sociais se daria com a chegada ao poder dos partidos com os quais se identificavam. Avançou – inclusive em organizações próximas aos partidos, como a CUT – a noção de autonomia. Surgiram as redes da sociedade civil, muitas vezes mais capazes de formular alternativas que os próprios partidos de esquerda, agora focados nas lides da conquista e manutenção de governos.
No entanto, o Estado continua a ser o principal espaço onde se legitimam os direitos. Como tantas outras, as reivindicações ligadas ao desenvolvimento sustentável só têm razão de ser se aspiram a se materializar em políticas públicas.
É nelas que Rubens Bor identifica a chave capaz de destravar as negociações internaqcionais sobre ambiente e combate às desigualdades. Engenheiro e ambientalista, Born é participante ativo do comitê de quinze organizações que prepara a Cúpula dos Povos. Representa, junto com Aron Belinky, a ONG Vitae Civilis, que reúne, em seu site, a documentação mais completa sobre a Rio+10, vista a partir da ótica da sociedade civil.
Born vê uma grande janela de oportunidade na conjuntura internacional. “A ECO-92 definiu uma estrutura avançada de políticas. Mas foi seguida pelos anos do neoliberalismo, que recomendavam reduzir o Estado ao mínimo e enxergavam no mercado o instrumento mais virtuoso prar reger a sociedade. Uma década depois, o primeiro balanço da grande conferência, feito na chamada “Rio+10” (em Johanesburgo), sacramentou esta visão tacanha”.
O cenário, agora, é outro, frisa Born. “Os próprios mercados reconhecem que precisam da mão do Estado. A Rio+20 pode recuperar o terreno perdido e conservar um feixe de políticas públicas para transição a um novo modelo”.
Quais seriam estras políticas? Quando Rubens Born começa a elencar exemplos, surge um desenho paradoxal. As propostas só soam utópicas se vistas a partir da ótima de um mundo submetido às lógicas de mercado. Não constituem um programa dirigido a vanguardas revolucionárias, mas a seres humanos comuns, preocupados ao mesmo tempo com o planeta e com suas responsabilidades quotidianas.
Dois breves exemplos, entre milhares de outros, são ilustrativos. Born pensa que Lula estava coberto de razão ao canalizar recursos para a indústria, visando evitar demissões, durante a crise financeira. Mas ressalva: “os benefícios fiscais gerariam os mesmos empregos, se fossem destinados ao transporte coletivo. Nesse caso, ajudariam a reverter a cultura de idolatria ao automóvel, que está tornando insuportável mover-se nas metrópoles”.
O ambientalista também lembra: estudos recentes preveem desabastecimento de água em algumas das grandes áreas metropolitanas brasileiras, dentro de poucas décadas. O preço dos imóveis nas áreas centrais está provocando migração para as periferias – onde, em geral, situam-se os mananciais. Ele tem uma proposta perfeitamente exequível para enfrentar a ameaça: “Por que não iniciar já o reflorestamento dos entornos das metrópoles, com políticas de reforma urbana que, além de resolverem a encruzilhada ambiental, gerarão uma grande quantidade de empregos verdes”?
Nesse ponto, aparece com clareza a tensão produtiva que as duas grandes atividades de 2012 – Rio+20 e Cúpula dos Povos – podem gerar, a partir de suas próprias diferenças. Sem o tempero da pressão social, é provável que a conferência oficial termine de forma pífia ou, pior, em nova frustração. Mas para continuar avançando na construção das novas lógicas sociais, e conquistar alguma vitória na preservação do ambiente e redução das desiguldades, a sociedade civil precisa ser capaz de apresentar propostas claras. Os próximos doze meses dirão se este primeiro passo é possível.
marcelino churrasqueiro
vídeo sobre a profissão de técnico de informática.

Informática Educativa
O objetivo da informática educativa é utilizar o computador como recurso didático para as práticas pedagógicas nos diversos componentes curriculares, incentivando a descoberta tanto do aluno quanto do professor e preocupando-se com "quando", "por que" e "como" usar a informática para que a mesma contribua efetivamente para a construção do conhecimento.
Embora muitas escolas possuam essas tecnologias disponíveis, as mesmas não são utilizadas como deveriam, ficando muitas vezes trancadas em salas isoladas longe do manuseio de alunos e professores. Esta parceria entre educação e tecnologia é muito dificil de ser efetivada. No que se refere a tecnologia digitais, principalmente, os professores mais conservadores tem dificuldade de interação. Eles já admitem utilizar o computador e a internet para preparar suas aulas,mas não conseguem ainda utilizar os mesmos na sua atividades em sala de aula, como instrumento pedagógico.
Texto sobre informática 
 A 
Lousa Digital possibilita a aprendizagem como algo prazeroso e instigante por ser uma ferramenta mediatizadora do processo educativo, que possibilita a incorporação da linguagem audiovisual, a realização de trabalhos coletivos, ampliando os agenciamentos comunicativos no contexto escolar, a fim de se motivar a construção de conhecimentos mais significativos. O benefício da lousa digital em relação às outras tecnologias, tais como o rádio, a televisão ou o computador, é que ela incorpora as funções desses recursos e, por isso, aproxima a linguagem audiovisual dos processos desenvolvidos em sala de aula, sobretudo na interatividade ocorrida por meio das práticas pedagógicas e dos processos comunicativos que professores e alunos esta

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quinta-feira, 17 de maio de 2012